Coisas não parecem muito bem no Peixe Urbano. Foto: Pexels.
Alguma coisa estranha está acontecendo no Peixe Urbano, site criado 10 anos atrás que é referência no assunto cupons de desconto.
A página da empresa está fora do ar desde dia 28 de janeiro. No Twitter, o Peixe Urbano responde questionamentos de clientes afirmando que está passando por uma “intermitência sistêmica” e que “o time de tecnologia está trabalhando para corrigir o erro”.
No entanto, o comportamento da empresa nas redes sociais nos últimos meses, assim como notícias sobre o desempenho do negócio, levantam suspeita de que a companhia pode estar escondendo o jogo.
A posição no Twitter é a única do Peixe Urbano até o momento. A assessoria de imprensa da empresa não está retornando questionamentos de jornalistas.
O Twitter é a rede social mais ativa do Peixe Urbano. Segundo a reportagem do Baguete pôde averiguar, a empresa parou de divulgar promoções em março de 2020. Desde então, o perfil não faz mais postagens, apenas responde aos pedidos de ajuda dos internautas.
Ainda no ano passado, o jornal cearense O Povo trouxe uma matéria revelando que o site estava retendo o pagamento de fornecedores e restaurantes que associam promoções aos cupons do site desde dezembro de 2019.
De acordo com o Globo, os funcionários também não recebem em dia, mesmo depois da demissão de “uma parte importante” durante a pandemia.
O Globo apurou que o Peixe Urbano está devendo inclusive para companhias de limpeza, como a Lsp 151, que entrou com processo de execução na Justiça de São Paulo por uma dívida de R$ 15 mil.
Segundo o jornal carioca, a empresa foi “surpreendida pelo coronavírus com um caixa excessivamente alavancado”, resultado da expansão para outros países da América Latina a partir de 2017, quando se fundiu com o Groupon na região.
Para piorar, seu modelo de ofertas, tradicionalmente concentradas em estabelecimentos físicos, como restaurantes, não se adaptou ao imperativo do delivery e do digital na quarentena.
Outra pista do O Globo é que desde abril a diretoria financeira é ocupada interinamente por Marcos Guedes, sócio da KR Capital, uma gestora paulista especializada em companhias em apuros.
No início deste mês, Guedes assumiu também a presidência da Saraiva, rede de livrarias em recuperação judicial.
Segundo O Globo, o Peixe Urbano não comunicou nada aos funcionários sobre um eventual plano de encerrar as atividades, e eles seguem trabalhando.
O Peixe Urbano tem seus funcionários em Florianópolis (cerca de 150, de acordo com o LinkedIn), e, segundo o Baguete pôde apurar, currículos de colaboradores da empresa têm circulado com força na Ilha nos últimos meses.
A pandemia pode ter agravado os problemas do Peixe Urbano, mas a verdade é que a empresa nunca cumpriu a promessa do hype de 2010, quando era uma das startups mais quentes do Brasil, com direito a participação acionária de Luciano Huck.
Os problemas já vêm de tempos e a empresa já rodou por vários donos. Em 2012, o Peixe Urbano vendeu suas operações na Argentina, no Chile e no México, e passou a focar no mercado brasileiro, sendo um portal de ofertas.
Já em 2014, a empresa foi vendida para a chinesa Baidu, que então tinha planos ambiciosos para o país e para o Peixe Urbano, que deveria se tornar “uma das principais empresas de internet do país”.
Três anos depois, em 2017, o Baidu vendeu o Peixe Urbano para o Mountain Nazca, que também havia adquirido os negócios latino americanos do Groupon e fundiu as operações.
Foi uma junção interessante, porque o Groupon foi o site cujo modelo de negócios o próprio Peixe Urbano copiou, anos antes. Ao que tudo indica, a fusão pode ter sido um abraço entre afogados.