A Apple e o mouse: história começou na Xerox. Foto: Divulgação.
No final de janeiro, a Fuji comprou a Xerox, em um negócio de US$ 6,1 bilhões que acabou com uma história de 115 anos de vida independente da Xerox.
A grande maioria das análises sobre o negócio tinha um tom de obituário da Xerox. Também constatou que o valor pago revela que a companhia é hoje uma sombra do que já foi. E é verdade.
Quantas empresas de tecnologia estão no mercado há 100 anos? Só consigo pensar na IBM. Quantas empresas de tecnologia criam algo que vira um verbo? Talvez o Google, ainda que eu não consiga me sentir muito natural dizendo que vou googlar algo.
Uma informação meio irrelevante, mas totalmente irresistível para um filólogo amador. Xerox vem de xerography, uma palavra em inglês formada pela junção de duas palavras gregas significando “escritura a seco”.
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Visita da Apple ao centro da Xerox
Uma parcela importante dos comentários atrelou o desenlace da história da Xerox a uma decisão tomada no final de 1979. Na ocasião, a empresa abriu as portas do seu centro de pesquisa e desenvolvimento no Vale do Silício, o lendário Xerox PARC, para a equipe da Apple. Em troca, havia uma opção preferencial de compra de ações na futura abertura de capital em bolsa da empresa que era então a mais quente do momento.
Durante a visita, que se tornou uma lenda no setor de tecnologia, os representantes da Apple viram um protótipo que é, mais ou menos, o que nós temos na nossa mesa de trabalho hoje. Era uma tela na qual o usuário clicava em ícones numa interface gráfica usando um mouse.
Até então, os usuários operavam seus computadores escrevendo comandos em um teclado (busque o prompt do DOS no seu Windows e escreva algo como C:/> copy *.txt c:\ para sentir a experiência). O mouse não existia.
Steve Jobs teria resumido o seu lado da visita usando a célebre frase de Pablo Picasso: “Bons artistas copiam, grandes artistas roubam”. O lado da Xerox foi comentado anos mais tarde: “Eles poderiam ter sido tão grandes como a IBM, mais a Microsoft, mais a Xerox juntos, a maior empresa de tecnologia do mundo”.
Essa versão clássica da história está muito bem contada em Piratas da Informática, um filme em tom de ligeira comédia sobre o nascimento da informática doméstica. Aqui, vocês têm o trecho sobre o Xerox PARC, com direito a dublagem em português para maior efeito de Sessão da Tarde.
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Futuros distintos
A venda da Xerox para a Fuji colocou o ponto final na história, opondo para sempre o gigante lento comandado por executivos lentos e incapazes de ver, além das suas máquinas de fazer cópias, frente a uma empresa jovem liderada pelo visionário capaz de ver naquele protótipo o futuro da tecnologia.
Como todas as histórias consagradas, a visita da Apple a Xerox e as consequências dela são um causo bem mais complicado e cheio de nuances. A partir disso, é possível tirar uma série de outras conclusões, quando se olha bem de perto.
O escritor Malcolm Gladwell fez exatamente isso neste artigo para a New Yorker, em 2011, que foi a primeira coisa que lembrei quando li sobre a venda da Xerox. Bem que eu gostaria de me lembrar das minhas senhas, dos nomes das pessoas ou aonde estão as coisas na minha casa. Mas não, é tudo artigos de revistas de cinco anos atrás e ex-jogadores do Inter que hoje são taxistas em Fortaleza.
A história do mouse
Gladwell se concentra em particular na história do mouse. Dois dias depois da visita ao Parc, Jobs se encontrou com um designer industrial chamado Dean Hovey e descreveu o equipamento visto na Xerox, mas não pediu exatamente uma cópia. Até porque o mouse da Xerox tinha três botões, custava US$ 300 para fabricar e quebrava em duas semanas, mesmo sendo usado em condições controladas.