Cobranças fazem parte do mundo corporativo. Foto: Pexels.
Qual é a fronteira entre a cobrança dura e o assédio moral de um subordinado? Um coordenador de equipes de infraestrutura da Stone, que nós chamaremos aqui de Francisco Silva, abriu o debate nesta semana, ao publicar no LinkedIn um print do canal de Slack da gigante de processamento de cartões.
A publicação, feita na tarde da terça-feira, 13, não chegou a ficar 24 horas no ar, período no qual acumulou mais de 10 mil reações e cerca de 80 comentários, um número alto para um perfil com cerca de 800 contatos na rede social:
A reportagem do Baguete conversou com Silva, sob a condição de anonimato para todos os envolvidos, e apurou a história por trás da postagem, um caso raro de vida real no Linkedin, uma rede social no qual os tons de rosa costumam ser mais frequentes.
Silva foi demitido na mesma terça-feira, portanto antes da postagem polêmica no Linkedin, sob a alegação de uma "reestruturação" no time. Procurada, a Stone confirmou a demissão, dando como razão "desempenho".
Segundo o profissional, após ser demitido, ele decidiu expor o que considera "uma prática abusiva" que aconteceria de maneira frequente dentro do canal de Slack, no qual estão inscritos cerca de 50 profissionais.
Silva, que estava na Stone há quase três anos, afirma que a chefia se comunicava principalmente pelo Slack, mesmo desde antes da pandemia do coronavírus. As cobranças foram relatadas ao diretor da área e por meio de um canal anônimo da Stone para esse fim, disse Silva.
Pelo seu perfil no Linkedin, Silva está no mercado de TI desde 2010, tendo feito uma progressão normal de carreira em cargos técnicos na área de infraestrutura, incluindo um período fora do país e empresas relativamente grandes no Brasil.
Silva disse ao Baguete que “não tinha o intuito de fazer esse barulho todo”, e que por isso decidiu apagar o post, horas depois de conversar com a reportagem do site. O profissional disse que a publicação gerou contatos de outros colegas e que há planos para uma ação coletiva na Justiça do Trabalho.
Por meio de nota (veja na íntegra no final do post), a Stone disse que “não compactua com atitudes que possam criar clima de agressão, de desrespeito, de humilhação a quem quer que seja” e que o caso está sendo apurado com “rapidez e profundidade” para que “medidas cabíveis” sejam tomadas.
“Independente dessa avaliação, a Stone pede desculpas à comunidade de TI e reforça que não aprova ou incentiva esse tipo de postura”, reforça a empresa, que recentemente pagou R$ 6,8 bilhões pela Linx, uma das maiores companhias de software do país.
O tom contrito da Stone pode se explicar por dois motivos. O primeiro é a preocupação com a atratividade no mercado de trabalho (a empresa quer aumentar o time de tecnologia em 60% em 2021) e o segundo pode ser a preocupação com a Justiça trabalhista.