Piero Contezini, CEO da Asaas. Foto: Divulgação.
por Piero Contezini*
Você certamente já ouviu que a palavra da década é inovação. Quem quiser se atualizar precisa, o quanto antes, criar um Departamento de Inovação na sua corporação centenária e sair montando projetos inovadores. O discurso está tão alinhado que de inovador não tem mais nada, e ouvir falar — e ler, como aqui — sobre isso chega a ser repetitivo. Mas “os resultados serão esplêndidos!”, dizem. Que nada, pura falácia.
Inovar não é uma atividade fim e sim um meio. Por causa dessa interpretação frequente, mas equivocada, não conheço nenhum projeto de inovação interna que tenha gerado resultados práticos para qualquer empresa. Eles simplesmente desafiam o princípio básico do negócio: eficiência organizacional para gerar lucro.
Com o hype da palavra, executivos de grandes companhias — sempre de olho em novas linhas de receita barata — criaram os chamados “programas de inovação aberta”, que são cópias do modelo de negócio de uma aceleradora de startups, já estabelecido e de resultado comprovado, dentro de uma organização incumbente.
Num primeiro momento, a idéia parece excelente: abrir um programa onde empresas nascentes irão propor suas idéias e as que forem interessantes para o negócio, serão aceleradas por meio de parcerias, dinheiro, conhecimento ou unidades de negócio dedicadas; coisas que o incumbente considera válido para aportar no novo negócio. Para a startup, parece uma ótima idéia para acelerar o desenvolvimento da empresa e a entrada no mercado de forma rápida e barata.
Tive a oportunidade de participar deste tipo de iniciativa, e ainda hoje empresas estabelecidas nos convidam para coisas semelhantes. Depois de analisarmos diversos programas e até participar por completo de uma iniciativa, faço um alerta aos empreendedores: essas oportunidades são como fazer sexo com gorilas. Você consegue imaginar como seria? Certamente não, mas pode ter certeza de uma coisa: será do jeito deles. Por isso, questione os reais motivos da parceria e, principalmente, as características do seu negócio.
O primeiro ponto a se refletir é justamente o seu nível de disrupção. Se o seu produto ou serviço for infinitamente inovador em relação ao status quo ou o que você faz tem chances de se tornar muito maior que a própria organização que te apoia, ele será o seu maior inimigo. A principal probabilidade é que a sua idéia será negada no programa e, meses depois a própria empresa tentará lançar algo similar.